Isotretinoína e depressão

A isotretinoína é um medicamento muito eficaz no tratamento da acne, porém há uma controvérsia na associação desta medicação com episódios de depressão

Isotretinoina-e -depressao-dermatologia-e-saude-1A isotretinoína é uma medicação antiga e muito usada pelos dermatologistas, e foi responsável por uma grande evolução no tratamento da acne. Transformou o tratamento da acne, que antes era tratada com paliativos, numa doença tratada com sucesso por um medicamento central, que praticamente devolve a harmonia e a normalidade à pele. É usada há pelo menos 3 décadas, e sua prescrição permanece uma das linhas de frente da dermatologia moderna. Contudo, a isotretinoína tem vários efeitos adversos. A depressão permanece citada como um controverso efeito da isotretinoína. Caso haja piora do humor do paciente, há maneiras de se detectar a crise depressiva e evitar seu agravamento.

Os dermatologistas e os psiquiatras volta e meia se deparam com relatos de alterações de humor relacionadas ao uso da isotretinoína. Muito já se questionou a este respeito, no passado houve casos de suicídio de adolescentes em uso desta medicação. Muitas explicações surgem inocentando o medicamento, como o fato de que adolescência e acne, por si só, são associadas a desafios e contextos depressivos. O fato de ser uma medicação de certa forma “intensa”, sujeita a efeitos colaterais graves (teratogenia, deformação de fetos), uso prolongado e receituário controlado por lei, faz com que se crie uma aura de perigo em torno desta medicação. Porém, usada com bom senso e responsabilidade, numa relação de empatia do médico e do paciente, seguindo todos os protocolos de controle clínico e exames laboratoriais e tendo como ponto principal uma sólida relação de empatia e confiança do do paciente e do médico, é uma droga segura.

Com o conhecimento disponível não há como afirmar a associação entre acne/isotretinoína e depressão. Deve-se seguir com atenção o tratamento das espinhas com a isotretinoína oral. Na verdade não é difícil detectar o rebaixamento do humor em um parente que esteja usando esta medicação, desde que se esteja atento.

A tendência ao isolamento e desesperança quanto ao futuro são comuns na depressão.
É controversa a associação entre depressão e uso de isotretinoína para acne. Fique atento a sensação de desânimo sem motivo aparente e alterações do sono.

Quando se diz “depressão”, a primeira imagem que vem na mente de muitos de nós é a de uma mulher de meia idade, melancólica, acima do peso, de fisionomia triste, cabelos desleixados, deitada numa cama num quarto escuro. Porém, há inúmeras variantes de apresentação de quadro depressivo, e justamente as mais atípicas são as que nos surpreendem, porque não nos damos conta de que aquele tipo de comportamento pode ser depressão. Agitação sem fim, muito trabalho com pouco resultado pode ser sintoma de depressão, especialmente em pessoas muito produtivas. Estas não se entregam facilmente a emoções depressivas, o que é bom para o tratamento, mas bem difícil para se reconhecer a crise depressiva e se tratar precocemente.

Basicamente, o indivíduo que começa um quadro depressivo vai começar com uma ou mais destas características, em intensidades variadas:

  • Queda do humor (mais que tristeza, é a vitalidade que se esvai numa pessoa depressiva; não há energia, é como se a bateria estivesse descarregando);
  • Aumento ou diminuição de sono, apetite e/ou peso (ou seja, padrões são mudados);
  • Perda de interesse em atividades outrora prazerosas (atividades que antes traziam ânimo e brilho aos olhos não mais trazem interesse);
  • Sentimento de menos valia (falta de autoconfiança, sensação de incapacidade para qualquer desafio, de qualquer nível de dificuldade);
  • Sensação de culpa (independentemente de proximidade, o depressivo sente que tem uma parcela de culpa em fatos que ocorreram ou deixaram de ocorrer, como se ele os tivesse causado ou os pudesse evitar);
  • E, por fim, uma sensação de que nada há a esperar do futuro, uma desesperança profunda. Perguntar a um depressivo o que ele espera de sua vida para 2 ou 3 anos é uma pergunta chave, que geralmente vai ter uma resposta muito vaga, repleta de desesperança, algo como “não sei”, “estou seu ideias”, “não faço muita questão”.
A depressão se caracteriza por sensação de baixa auto-estima e sensação de desesperança quanto ao futuro.
Muitas vezes o paciente em si não nota sua mudança de humor. São os familiares e os amigos que vão notar que a pessoa está diferente. Convém dar atenção a essas observações.

Estes sinais ajudam a acender o alerta para uma crise depressiva incipiente.

A grande maioria dos efeitos adversos da isotretinoína são reversíveis com a sua interrupção do uso da medicação, e provavelmente haverá melhora do humor com a suspensão de seu uso (embora haja a controvérsia citada acima). Deve, por fim,ser avaliada a necessidade de uma abordagem por um psiquiatra, que é exatamente o médico especialista em pensamento. Há um certo tabu em relação ao médico psiquiatra, com a ideia de que seria um profissional para casos extremos de transtornos mentais, “só para loucos”. Mas é justamente o profissional que irá evitar que casos brandos cheguem a desfechos trágicos, como o suicídio.

A depressão tem tratamento, principalmente quando a mudança de comportamento é detectada precocemente.
O otimismo e alegria de viver podem voltar, com o tratamento correto. Esteja atento às recomendações de seu médico.


Dr. Marco Otávio Rocha CoutoDr. Marco Otávio Rocha Couto
Médico Dermatologista
CRM-DF 12.167 | RQE 6137

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1 comentário em “Isotretinoína e depressão”

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