A isotretinoína é um medicamento tem grande sucesso no tratamento da acne, porém existe a possibilidade (controversa) de associar-se com crises depressivas e suicídio. É possível contornar este possível efeito adverso
A isotretinoína é um excelente medicamento, renovou o modo como se tratava uma das doenças mais comuns da humanidade, a acne. Porém, pode haver relação entre o uso da substância, acne, e depressão/suicídio. O uso deve ser feito com consciência, coerência e seguimento entre paciente, família e o médico especialista, de modo a detectar o risco de suicídio e evitá-lo. Quando o estado mental está alterado, depressivo, o paciente deve ficar muito atento à opinião de familiares e aceitá-la (mesmo que seja difícil), porque o depressivo muitas vezes não está em condições de analisar seu próprio comportamento, pelas alterações do humor. É a família que dá o alerta, e deve-se ter humildade em reconhecer a própria fraqueza momentânea.
A ligação entre este medicamento e transtorno depressivo/suicídio é incerta, à luz do que se sabe atualmente. Existem estudos comprovando que a isotretinoína não afeta o humor e não provoca irritabilidade emocional nem crise depressiva. Como a acne grave geralmente ocorre na adolescência, uma fase tumultuada emocionalmente, cogita-se que a depressividade estaria associada à alteração na aparência que as espinhas provocam, e não pelo uso da substância.
Contudo, dermatologistas e (principalmente) psiquiatras relatam ocorrência de transtornos de humor relevantes (depressão grave, depressão psicótica, ideação suicida e suicídios) em pacientes em uso de isotretinoína, mesmo que não tivessem doença mental prévia. Acresça-se a isso o fato de, no início da prescrição da droga, na década de 90, nos EUA, ter havido casos de suicídios em adolescentes em uso da droga. É o suficiente para ficar alerta para queda do humor ou mudanças de comportamento em familiares que estejam usando esta medicação.
O suicídio é tratado como um tabu pela sociedade, e a imprensa prefere não divulgar os casos ocorridos, de forma a evitar sugestão do ato suicida a leitores propensos e melancólicos. Também esta conduta é controversa, uma vez que tratar do assunto às claras, sem melindres, poderia justamente fazer o suicida em potencial conseguir falar sobre o assunto e se sentir mais aliviado da tendência suicida, por contar com o amparo emocional da família e dos amigos. Talvez seja muito pior tratar o tema como algo proibido, o que só faria piorar o estado mental do indivíduo, que, sozinho com os pensamentos depressivos, pode não conseguir se cuidar e acabar atentando contra a própria vida.
Infelizmente, como é um ato extremo, e irreversível, em muitos casos, não se consegue prevenir o suicídio. É de extrema dor para amigos e familiares saberem que tinham alguém com tal tendência entre si, e não se deram conta. É uma culpa que se carrega por toda a vida. Felizmente, já foram identificados alguns sinais que podem evitar o desfecho trágico.
A primeira evidência, e que geralmente é descartada, é o fato de que pacientes que tentam suicídio várias vezes são, sim, suicidas em potencial, embora se pense que apenas querem compaixão, chamar a atenção. Estes casos podem sim ter desfecho em suicídio. Mudanças bruscas de comportamento, como isolamento, perda de prazer em atividades outrora prazerosas, desleixo com os cuidados pessoais, também devem ser observadas e avisadas ao médico assistente. Posturas de despedida (doar objetos que eram de grande valor afetivo, medalhas, anéis, smartphones, ou mesmo dar um abraço apertado na avó dizendo “ACONTEÇA O QUE ACONTECER eu te amo, vovó” são especialmente preocupantes. E também ideias pessimistas e falta de planejamento para o futuro. Quem não tem planejamento para dali a um ou dois anos pode estar considerando que não viverá até lá. A família deve ficar atenta.
A simples suspensão do tratamento pode melhorar o quadro depressivo (embora esta associação seja controversa) e prevenir o suicídio, porém muitas vezes é necessária a intervenção de um psiquiatra para avaliação de indicação de medicamentos e apoio de psicoterapia. Embora também a psiquiatria seja um tabu socialmente, o psiquiatra deve sim ser acionado se necessário. Trata-se de evitar uma morte.