A incorporação do hábito de ingerir alimentos crus ou mal cozidos à cultura de diversos países, como o Brasil, e o amplo fluxo de viagens ao redor do mundo vêm acarretando o aparecimento de doenças pouco conhecidas no nosso país, como a gnatostomíase.
A gnatostomíase é uma parasitose endêmica em alguns países asiáticos, causada pela ingestão da larva do nematódio Gnathostoma sp, que pode ocorrer no consumo de carne crua de peixes de água doce (ceviche, sushi, etc). Também pode ocorrer pela ingestão de carne crua de lagostas, rãs, caranguejos ou galinhas.
A doença atinge vários órgãos, entre eles a pele, manifestando-se frequentemente como lesões avermelhadas e endurecidas, serpiginosas, no tecido adiposo, principalmente do abdome, que coçam.
Países da América Central e do Sul como México e Peru vêm apresentando número crescente de casos desde 1970. No Brasil têm surgido alguns casos, na região norte e Mato Grosso, especialmente em pescadores, que relatam ter ingerido alimentos crus preparados com peixes locais, como o tucunaré.
Os hospedeiros definitivos do parasita são cães, gatos e leões. Na parede gástrica destes animais a forma adulta vive, formando tumoração. Os ovos são liberados no trato gastrointestinal e eliminados pelas fezes. Após uma semana os ovos liberam larvas, infectando pequenos crustáceos do gênero Cyclops, que são ingeridos por peixes, sapos, rãs ou aves com subsequente contaminação do homem: a larva penetra via trato gastrointestinal, caindo na corrente sanguínea após três ou quatro semanas, com migração posterior para vários órgãos.
A localização usual é a pele, mas a larva pode migrar para outros órgãos e sistemas, como olhos, pulmões e sistema nervoso central. Na Tailândia a gnatostomíase é uma das principais causas de hemorragia subaracnóide, correspondendo a 6% dos casos em adultos.
O diagnóstico de infecção pelo Gnathostoma sp é feito por meio da lesão clínica característica, associada a aumento de eosinófilos no hemograma e achados na biópsia típicos, podendo ou não ser encontrado o parasita. Na literatura, a frequência de identificação da larva ao exame histopatológico varia de 23 a 34%.
Na Ásia já existem testes sorológicos para a detecção de anticorpos contra o parasita. No Brasil o diagnóstico é feito pelo quadro clínico (conjunto de sinais e sintomas do paciente) e biópsia da pele. O tratamento é feito com medicamentos anti-helmínticos, que curam totalmente a doença.