Novos tratamentos do melanoma

Novos tratamentos do melanoma: Entenda mais e previna-se

O melanoma é um tipo de câncer bastante resistente aos tratamentos com quimioterapia tradicionais e, até pouco tempo, não havia tratamentos que fossem muito efetivos em reduzir e controlar a doença, caso ela se encontrasse espalhada para órgãos além da pele.

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Isto começou a mudar nos anos 2000, conforme fomos aprendendo mais sobre a biologia do melanoma e os mecanismos de crescimento e multiplicação da célula cancerígena. Pesquisadores e médicos identificaram que, em metade das pessoas que tinham melanoma, era possível identificar uma mutação nas células, na proteína conhecida como BRAF. Esta é uma proteína que existe em todas as células normais do corpo humano, e faz parte de uma linha de comunicação entre a célula e o resto do corpo.

Em estados normais, quando a célula recebe um sinal para crescer ela ativa uma série de proteínas que chegam até o núcleo, no centro da célula, e iniciam o processo de duplicação. O BRAF é uma destas proteínas que dizem para a célula quando começar a crescer caso exista essa necessidade. No entanto, a mutação do BRAF faz com essa proteína fique constantemente ativada, estimulando o crescimento do melanócito continuamente. Isto é um importante fator para transformar um melanócito normal num câncer, o melanoma maligno da pele. Esta mutação é detectada no exame de biópsia do melanoma ou no material da cirurgia para a retirada do melanoma.

Hoje existem dois medicamentos que bloqueiam a ação do BRAF mutado, o Vemurafenib (nome comercial Zelboraf) e o Dabrafenib (nome comercial Tafinlar). Estes medicamentos são administrados sob a forma de comprimidos e são recomendados para o tratamento de pessoas que tenham melanoma metastático, ou seja, doença espalhada para outros órgãos além da pele. Os dois medicamentos têm a capacidade de reduzir dramaticamente o melanoma e assim controlar o crescimento da doença. Existe ainda um terceiro medicamento que bloqueia uma proteína conhecida como MEK, o trametinib (nome comercial Mekinist). Esta proteína fica logo abaixo do BRAF na linha de comunicação do crescimento celular, sendo ativada por ele.Logo, se bloquearmos esta proteína, o sinal de crescimento criado pelo BRAF mutado não vai adiante, causando efeito semelhante ao bloqueio do BRAF. Hoje está aprovado para comercialização no Brasil apenas o Zelboraf, para se conseguir os outros dois medicamentos é necessário se fazer por meio de importação.

Existe uma segunda estratégia para o tratamento do melanoma metastático que pode ser usada em todos os casos, independentemente da mutação do BRAF, são os medicamentos estimuladores do sistema imunológico. Esta é uma nova fronteira de medicamentos que vem se mostrando efetiva no tratamento de diversos tipos de câncer e funcionam impedindo o desligamento das células do sistema imunológico.

Em condições normais as células do sistema imunológico são ativadas para combater um agente agressor, como uma bactéria ou vírus. Uma vez que esta infecção esteja controlada as células naturalmente são desligadas, para evitar que causem danos aos tecidos normais. Este desligamento ocorre através de receptores na parte externa das células de defesa, espécies de interruptores conhecidos como CTLA4 e PD1. Os tumores, muitas vezes, têm a capacidade de desligar as células do sistema imunológico, antes que elas possam atacar as células do tumor.

Duas classes de medicamentos se mostraram eficazes em evitar o desligamento do sistema imunológico pelos tumores, o anticorpo inibidor de CTLA4, conhecido como Ipilimumab (nome comercial Yervoy) e os anticorpos inibidores de PD1, Pembrolizumab (nome comercial Keytruda) e Nivolumab (nome comercial Opdivo). Em pessoas com melanoma metastático, a ativação prolongada do sistema imunológico foi capaz de reduzir os tumores e controlar a doença por mais tempo. Estes medicamentos podem ser usados tanto isoladamente como em combinação. A ativação do sistema imunológico por estes medicamentos pode ser tão intensa que, por vezes, os tumores aumentam de tamanho antes de reduzir. Isto ocorre pela infiltração do tumor por células de defesa que entram no tumor para combater a doença. Durante o tratamento o oncologista deve acompanhar o paciente de perto porque o sistema imunológico pode, eventualmente, atacar outras partes do corpo que não apenas o tumor. Quando isto é identificado, uma pequena interrupção do tratamento deve ser feita. Esta é uma classe de medicamentos extremamente promissora e tem se mostrado eficaz no tratamento de diversos tipos de câncer. Apenas o Yervoy encontra-se disponível no Brasil, os outros dois medicamentos podem ser adquiridos por importação.

Tratamento do Melanoma: célula do sistema de defesaatacaumacélulacancerígena.
Imunoterapia no melanoma: uma célula do sistema imunológico ataca uma célula cancerígena.

Até o ano de 2009 não havia muitas opções para o tratamento do melanoma metastático, hoje já dispomos de seis medicamentos eficazes, sendo três deles comprimidos e três anticorpos administrados na veia. Com o progresso do conhecimento da biologia do câncer e do melanoma é provável que vejamos muitos outros num futuro próximo.

felipe ades

Colunista convidado Dr. Felipe Ades
Médico CRM-SP 168018