Dando continuidade à série de entrevistas sobre melanoma, Dermatologia & Saúde abre espaço para Roberto Klotz contar a sua história
Roberto reside em Brasília, é engenheiro e escritor, autor de várias obras como: Pepino e Farofa, Quase pisei e Cara de crachá. Ele deu uma chacoalhada na sua vida após o diagnóstico de melanoma. Leia o relato das impressões dele e veja que isso poderia ter acontecido com você ou com algum familiar querido. O melhor é se prevenir!
“Por volta dos 60 anos de idade fui à dermatologista porque a minha mulher cismou com uma pinta que surgiu de uma hora para outra nas minhas costas. Nessa idade já temos e frequentamos – eu pelo menos – um dentista, um cardiologista, um otorrino, um urologista, um oftalmologista e também um dermatologista. Escrevi tudo no gênero masculino apesar da turma dos politicamente corretos achar que precisamos escrever e dizer um e uma profissional.
Mas voltando ao assunto; as minhas costas são um céu estrelado de tantas pintas. A doutora examinou daqui, examinou dali e me tranquilizou. A pinta podia ser queimada (ou eletrocutada) na hora, sem perdão. Entretanto outra, um pouco maior, merecia atenção. Aleguei que aquela era de estimação, que sempre esteve naquele mesmo lugar desde criança. Não houve espelho que me fizesse enxergar o que ela via. A foto tirada no celular tampouco ajudou porque eu só conhecia a pinta com a ponta dos dedos. A doutora, em vez de tirar, esquartejou dois pedaços para autópsia. O resultado demorou mais do que eu gostaria. Alegaram que precisaram confirmar o resultado. O laboratório forneceu o laudo diretamente à dermatologista.
No dia da consulta ela teve uma longa conversa comigo explicando o que era um melanoma. Eu me recordo que achei a conversa longa demais para o meu gosto. Externei que um cunhado teve câncer de pele, que minha mãe teve câncer de pele, que um amigo teve câncer de pele. Conheço várias pessoas que tiveram câncer de pele e que eles não fizeram drama e que foram “consertados” em pouco tempo. A dermato, com muita paciência, explicou que aquele não era um carcinoma e sim um melanoma, um câncer mais agressivo que precisava de tratamento diferenciado. Ainda insisti que ela extraísse logo o restante da pinta. Ela detalhou o procedimento cirúrgico. Que em resumo consistia em muito mais que uma incisão. Que era preciso retirar todo o material abrangendo uma “área de segurança” para ter certeza de retirar todo o material e ainda exames adicionais para saber se a doença já havia contaminado o corpo ou se estava restrita à localidade. Eu me lembro de ter feito um comentário sincero embora mórbido: “Na minha família não se morre de câncer, mas de enfarte.” Eu verdadeiramente não fiquei abalado, entretanto ao chegar em casa percebi o desespero da minha mulher que mobilizou meio mundo até encontrar um oncologista que nos atendesse com urgência e que poderia realizar a cirurgia logo. Para mim, apesar das explicações, ainda achava que bastava simplesmente remover a pinta e que todos ao redor de mim estavam fazendo tempestade em copo d’água. Realizei um exame, entre outros, chamado cintilografia que confirmaria se o câncer estava restrito ou não. Levei o resultado para casa com enorme sorriso: “Viu, eu não falei que não era para se preocupar!” Poucos dias após o diagnóstico e uma batelada de exames pré-cirúrgicos, fizeram a extração total e mais um pouquinho da minha pinta. Um pouquinho equivalente a meia laranja.
Tudo correu bem, entretanto precisei fazer outros exames para confirmar que o câncer tinha sido eliminado. A minha tranquilidade inicial deveu-se à minha desinformação e por desconhecimento de pessoa próxima com câncer. A genética familiar e a detecção precoce estavam a meu favor, mas as informações que encontrei na internet e os familiares próximos rezando, balançaram as minhas convicções (infundadas) de segurança e conforto. Lembro-me que fui sozinho buscar o resultado num final de tarde e não tive coragem de abrir o envelope na hora. Resolvi abrir apenas no carro. Por não ser religioso nem supersticioso não rezei nem fiz qualquer mandinga. Li o resultado – foi negativo – enquanto o rádio do carro começou a tocar a Ave Maria de Gounod. Momento de libertação de inconfesso temor e muitas lágrimas. Agradeci a Deus. Fiz exames nos três anos seguintes e nenhum deles constatou câncer”